domingo, 21 de setembro de 2008

O ANALFABETO POLÍTICO

Em "tempos de política" como estes, penso que o poema de Brecht que venho postar seja de intensa necessidade!
Ainda que, devido a tudo, seja dificil até escolher em quem se vota, escolher, inclusive, é necessário. Assim, faço minhas as palavras de Berthold Brecht.

"O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.
O analfabeto políticoÉ tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política,
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e multinacionais."

O analfabeto político - Bertold Brecht.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O Muro e o Mito

Como vou-te buscar e não encontro,
Vou a teu caminho e paro no meio, volto, retorno.
(Sinto uma poeira de cimento “encegueando-me”.
– mais que motivo pra voltar);

Como vou-te tocar e não toco,
Não enxergo, nem sinto.
Penso que é como se houvesse um muro;
Feito de mitos.

Esse muro: entre nós,
Se “enlarguesse”, se aprofunda e cresce.
Nos impede.

sábado, 13 de setembro de 2008

Versos antigos

É como se meus versos já tivessem nascido velhos, esquisitos, cansados.
Sem essa vontade óbvia de uma boêmia romântica, de uma emoção alcoolizada.
Nasceram com tudo isso já vivido, pensado, esqecido, vencido.
Esqueram porém de me contar como havia sido.
A vivência, o prazer, o inesquecível.
Nasceram velhos os meus versos, coitados.
Unidos a um conservadorismo - para não dizer sem gracismo.
Unidos à seriedade e excesso de análise do que é sentido.
Porém, reconheço. Vieram de mim, são versos...

domingo, 7 de setembro de 2008

Maria II (Mariazinha)

Mariazinha era só medo.
Presa em casa.
Nunca desobedecia
Menos ainda chegava tarde em casa.
Não comia fora
– podia passar mal, dizia.

Mariazinha sempre criticava sua amiga, Carla,
Que atravessava a rua na hora errada,
Entregava o trabalho depois da data.
Dançava, sem vergonha de nada.

Mariazinha nem amava
Nem cantava
Nem brincava

Um belo dia,
Mariazinha foi atravessar a rua na hora certa
Veio um carro na hora errada
E Mariazinha morreu atropelada.

Morreu não,
Porque pra morrer tem que ter vivido
E Mariazinha, coitada,
Não havia vivido nada.

Poema do meu livro: "Versos de um suspiro", de 2007.